sexta-feira, 23 de maio de 2008

Programa da Grande Esfera-Atmosfera da Amazônia discute novos rumos

Por Fábio de Castro, da Agência Fapesp

Comitê científico do Programa da Grande Esfera-Atmosfera da Amazônia discute alternativas de financiamento e apresenta novo plano para a segunda fase do experimento internacional que estuda as relações entre o uso da terra e o clima amazônico.

Agência FAPESP – A primeira fase do Programa da Grande Esfera-Atmosfera da Amazônia (LBA) foi encerrada com sucesso e as estratégias para a segunda etapa já estão traçadas, de acordo com Paulo Artaxo, um dos coordenadores do programa cujo objetivo é aumentar o conhecimento sobre as relações entre o uso da terra e o clima amazônico.

Os membros do comitê científico responsável pelo LBA se reuniram nos dias 19 e 20, em Campinas (SP), para traçar os rumos do programa. Segundo Artaxo, o LBA é um dos maiores experimentos científicos em andamento no mundo. No Brasil, mais de mil pesquisadores e estudantes participam da execução de uma agenda científica integrada.

“Os resultados, medidos por várias métricas, são muito bons, incluindo a formação de recursos humanos na Amazônia, a expressiva e extensa lista de publicações científicas e as descobertas científicas sobre o funcionamento integrado do ecossistema amazônico”, disse Artaxo à Agência FAPESP.

Os trabalhos de pesquisadores do LBA geraram a publicação de quatro artigos nas revistas Nature e Science, além de mais de 1,5 mil artigos em outras revistas científicas. O programa produziu ainda cerca de 150 projetos de pesquisa de ciência de ponta e mais de 500 mestres e doutores foram formados na região amazônica.

Artaxo, professor titular e chefe do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), explica que o programa foi constantemente adaptado às descobertas científicas realizadas ao longo dos mais de dez anos de existência do LBA. “O novo plano científico para a segunda fase do programa foi desenhado de acordo com esses avanços”, apontou.

O novo plano, segundo Artaxo, baseia-se em três grandes tripés, que se relacionam de forma integrada: a interação biosfera-atmosfera, o ciclo hidrológico e as dimensões sociopolíticas e econômicas das mudanças ambientais.

“São também três focos de pesquisa. O primeiro se refere aos processos: as mudanças no ambiente amazônico. O segundo se refere às conseqüências: a sustentabilidade dos serviços ambientais e os sistemas de produção terrestres e aquáticos. O terceiro foco se refere às respostas: a variabilidade climática e hidrológica e sua dinâmica – retroalimentação, mitigação e adaptação”, explicou.

As características da segunda fase do projeto incluem a ênfase em abordagem de mesoescala, a integração de domínios disciplinares, a otimização da infra-estrutura para pesquisa e a valorização de recursos humanos.

Segundo Artaxo, na nova fase o programa deverá estudar temas como a relação entre desmatamento e as quantidades e padrões de precipitação, as taxas de deposição seca e úmida de nutrientes na Amazônia, a expansão dos estudos climáticos e ambientais para as sub-regiões da Amazônia andina e da Guiana e indicadores de sustentabilidade.

“Outras motivações para o programa são os estudos sobre a relação das mudanças climáticas e ambientais com a saúde humana, a integração das escalas locais, regionais e de mesoescala, os aspectos sociais e econômicos ligados às mudanças de uso e cobertura da terra e os fluxos de energia, gases-traço [de baixa concentração na atmosfera], aerossóis [núcleo de condensação de nuvens] e vapor de água na Amazônia”, disse.


Novo arranjo institucional

Em setembro de 2007 o LBA foi transformado em programa governamental. Segundo Artaxo, a nova condição deu ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) um canal direto de participação no programa.

“Com isso, os pesquisadores passaram a atuar nas demandas governamentais de modo mais direto. O LBA continuará a ser gerenciado pelo MCT e coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)”, apontou.

De acordo com o professor da USP, o gerenciamento pelo MCT está sendo feito de modo integrado com outros programas associados, como o projeto Pesquisas de Desenvolvimento de Métodos, Modelos e Geoinformação para Gestão Ambiental (Geoma) e o Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PP-BIO). “Os três programas estão organizando uma conferência científica integrada, que ocorrerá em novembro, em Manaus”, afirmou.

Artaxo destaca que é difícil avaliar quanto foi investido até hoje no LBA – as estimativas são de mais de R$ 100 milhões –, pois aos recursos do MCT foram adicionados investimentos de diversas outras agências, como a FAPESP, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam).

“Além disso, instituições internacionais como a Nasa, a National Science Foundation, além da Comunidade Européia, também tiveram papel relevante no financiamento da primeira fase do LBA. A segunda fase terá participação maior de fontes brasileiras de financiamento”, disse.

O coordenador afirma que a previsão de orçamento para o programa, na segunda fase, é de R$ 4 milhões anuais – o que deverá incluir recursos para manutenção de infra-estrutura, recursos humanos e investimento em pesquisa.

“Mas os detalhes sobre como o financiamento pelo MCT irá se materializar ainda não foram completamente definidos. Esses mecanismos deverão ser definidos na reunião do comitê científico, juntamente com representantes do ministério”, disse.

Segundo Artaxo, o desmatamento e a queimada das florestas liberam anualmente cerca de 1,6 bilhão de toneladas de carbono na atmosfera. Ao lado da queima dos combustíveis fósseis – que emite entre 6,4 e 7,2 bilhões de toneladas –, a destruição da floresta está entre os grandes responsáveis pela concentração de gases de efeito estufa que causou, nos últimos 50 anos, um aumento de 1,7ºC na temperatura média da Terra.

Mais informações: http://lba.cptec.inpe.br/lba/site

Crédito da imagem: LB

(Envolverde/Agência Fapesp)

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