segunda-feira, 5 de maio de 2008

Mudança climática: Fornecedores de multinacionais aceitam medir emissões

Por Stephen Leahy, da IPS

Johannesburgo, 02/05/2008 – Cada vez mais companhias fornecedoras de algumas das maiores multinacionais estão aceitando medir e informar sobre suas emissões de gases causadores do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. Muitas “empresas, incluindo as de países menos industrializados, estão preocupadas com os riscos do clima extremo, a escassez de água e com tudo o que representa a mudança climática”, disse Paul Dickinson, diretor-geral da Carbnon Disclosure Project(CDP), organização independente sem fins lucrativos com sede na Grã-Bretanha e que coordena esse esforço.

Multinacionais como Tesco e Unilever talvez não liberem grandes quantidades desses gases em suas instalações, mas seus fornecedores – que são milhares e estão em todo o mundo – sem dúvida, sim. Seria bobagem fingir que estes não são parte das marcas de carbonoi (quantidade de emissões na cadeia de produção) de uma corporação, disse Dickinson à IPS. O CDP é uma iniciativa que coordena ações entre 385 investidores institucionais, com ações no valor de US$ 57 bilhões, que solicitam às 500 principais empresas do mundo que revelem informação sobre suas emissões de gases que provocam o efeito estufa.

Cada vez mais as principais companhias e seus investidores sabem que a mudança climática supõe um importante risco econômico e, portanto, procuram reduzir suas emissões. Sob o programa Colaboração da Liderança sobre a Cadeia de Fornecimento, do CDP, foi solicitado em janeiro a 11 multinacionais que obtenham informação sobre as emissões de carbono e metas de redução de seus fornecedores. As empresas que participam são Dell, Hewlett Packard, L’Oreal, PepsiCo, Reckitt Benchister, Cadbury Schweppes, Nestlé, Procter & Gamble, Tesco, Imperail Tobacco e Unilever. Os resultados compilados foram divulgados na quarta-feira pelo CDP.

Os dados indicam que 96% dos fornecedores reconhecem os gases que provocam o efeito estufa como um risco potencial. Também consideram que as condições climáticas extremas afetarão suas operações e reduzirão sua produtividade. Cerca de 58% identificaram a redução do consumo de energia como a melhor forma de reduzir os riscos. Mas, no momento, apenas 26% ficaram metas para diminuir suas emissões, disse Dickinson. “Há uma revolução na consciência pública em todo o mundo sobre a emissão desses gases. As pessoas não comprarão produtos de empresas cujas emissões prejudicarão seus filhos”, afirmou.

Agora o CDP se prepara para em maio levar sua campanha a outras multinacionais, com Vodafone, Carrefour, IBM, Heinz e milhares de fornecedores. A organização espera que, em 2009, “toda companhia responsável por significativas quantidades de emissões de carbono” seja parte do programa, explicou Dickinson. Medir e reduzir essas emissões logo será algo comum para todas as empresas. A rede de supermercados Tesco anunciou que uma ampla gama de suas marcas próprias levará etiquetas especificando as marcas de carbono.

A Grã-Bretanha está tornando obrigatório o informe de emissões. A província canadense de Colúmbia Britânica vai impor um imposto às emissões a todas as empresas a partir de 1º de julho. Inclusive os Estados Unidos, sob o governo de George W. Bush, prepara um sistema para que a indústria informe suas emissões. Dickinson considera que esta é uma mudança fundamental e acredita que as companhias que puderem conseguir produtos com baixas emissões de carbono serão as ganhadoras, reduzindo seus custos energéticos e ganhando consumidores.

Esta mudança é uma das razões pelas quais muitos investidores e instituições financeiras já não colocam seu capital em unidades de energia à base de carbono nos Estados Unidos. E em um país com a África do Sul, que sofre importante escassez de eletricidade, seria ingênuo construir mais usinas movidas à carvão, disse o ativista. As emissões sul-africanas por habitante são semelhantes às européias, mesmo quando milhões de pessoas no país africano vivem sem eletricidade.

“Os mais pobres do mundo são os mais vulneráveis à mudança climática. Não podemos esquecer isto. Serão os mais afetados pelas temperaturas mais altas e pela escassez de água”, afirmou Dickinson. Enquanto os ricos podem se adaptar aos piores impactos da mudança climática, os pobres têm de procurar comida e água. E a já alta taxa de criminalidade na África do Sul aumentará porque as pessoas ficarão mais desesperadas, alertou.

A CDP é uma ferramenta muito útil que torna acessível ao público quase toda informação através de seu site Cdproject.net, disse à IPS o pesquisador do clima Andre de Fontaine, do Centro Pew sobre Mudança Climática Global, organização não-governamental norte-americana que trabalha com líderes do setor privado, do governo e da área acadêmica. (IPS/Envolverde)

(Envolverde/IPS)

Nenhum comentário: