quarta-feira, 7 de maio de 2008

Design Ítalo-Brasileiro tem Projeto contra desmatamento e aquecimento global

Produzidos a partir de resíduos florestais e sobras de madeira, móveis com design ítalo-brasileiro fazem parte de projeto contra desmatamento e aquecimento global

São Paulo, abril de 2008 – Brasileiros e italianos uniram sua criatividade e técnica para transformar restos de florestas e sobras de madeira de cidades do Norte e Nordeste brasileiro, nas franjas da Floresta Amazônica, em design inovador. Esta arte diferenciada, que descarta materiais como plástico e sintético e utiliza apenas recursos renováveis do meio-ambiente, sintetiza, na opinião de seus criadores, um novo design contemporâneo, pós-industrial, voltado para as contradições do século 21.

Lançados na mostra “Brasil – Design do Século 21”, que ocorreu de 21 a 24 de abril em Milão, na Itália, no rastro do 47º Salão do Móvel de Milão, os móveis – 7 peças escolhidas entre o mobiliário que já faz parte de um portfólio levado à Europa para representantes e contatos já efetuados para comercialização das peças no mercado europeu – farão parte, agora, de uma programação internacional. Um protótipo da cadeira kioto e uma poltrona “jogo de armar” ficarão em exposição na Escola Italiana de Design por 30 dias, até o final de maio, para palestras e discussões sobre as tendências do design que estas peças apontam.

As outras peças serão exibidas em uma mostra de arte e design latino-americano em Milão a ser realizada de junho a agosto. Outro protótipo da cadeira Kioto será levada a uma mostra que ocorre de abril a julho em Nova Iorque sobre produtos da Amazônia. Lá será exibido também um documentário sobre a peça, “Kioto morreu, viva Kioto”, uma referência ao protocolo que deu nome ao móvel.

Os móveis também participarão de romaria por favelas de cidades italianas e brasileiras, no Nordeste e no Rio de Janeiro, onde o documentário sobre a cadeira kioto será tema de debates sobre o desmatamento da Amazônia.

Cinco cadeiras Kioto já foram vendidas e farão o caminho inverso de seu périplo Brasil/Itália: foram compradas pelo italiano Roberto Ferroli, dono do hotel-resort mais luxuoso do Ceará e um dos mais sofisticados do Brasil, em Camocim, junto de Jericoacoara, para serem expostas exatamente em praias brasileiras, no estado onde as peças foram produzidas.

No lugar de carvão, um bilhão de euros

A diferença é que agora, os móveis fabricados pelas comunidades carentes com os restos de madeira que normalmente transformariam em carvão para cozinhar alimento, farão parte de outro cenário. E é exatamente este o plano dos coordenadores do projeto Floresta Móbile - criar alternativas de susbsistência para as comunidades do Ceará, Maranhão e Piauí, onde os móveis são produzidos, vendendo-os para a classe A, no Brasil e na Europa.

Nestas regiões do Nordeste brasileiro, 3 milhões de metros cúbicos de restos de floresta e sobras de madeira, resultado do desmatamento promovido por madeireiras, são queimados anualmente para produzir carvão. Transformados em móveis, objetos de arte e decoração e comercializados no comércio exterior, eles poderiam render perto de um bilhão de euros anuais, triplicando a renda per capita das comunidades vizinhas à Amazônia.

Criado pelo Instituto Brasil Design 21 e pelo Conselho Euro-Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (EUBRA), em parceria com a Escola Italiana de Design, além de vários outros parceiros nacionais e internacionais, o programa Floresta Móbile prevê o aprimoramento dos produtos artesanais das comunidades de baixa renda nas cidades do Nordeste, com a ajuda técnica da escola italiana, e parcerias com redes de distribuição de móveis italianos para sua comercialização em mercados internacionais.

O projeto prevê, também, o reinvestimento de 3% do total obtido com as vendas dos produtos, na produção de mudas de reflorestamento nativo.

A cadeira Kioto é considerada um ícone do projeto e desta revolução de conceitos, ao criar beleza nas franjas da Floresta Amazônica, onde a mata já foi destruída. Fabricada em uma pequena marcenaria em Açailândia, ao sul do Maranhão e confeccionada a partir de sobras de madeira, com estofamento em fibras naturais, trabalhadas pelas artesãs da favela do Pirambu, em Fortaleza, a cadeira Kioto foi escolhida por seus criadores para representar uma iniciativa que está produzindo belos objetos de artesanato e de mobiliário em Estados do Nordeste do Brasil com grandes contingentes de população de baixa renda.

Certificação inovadora

A certificação do projeto Floresta Móbile é para o produto e não para a madeira e baseia-se em um processo denominado Certificação Comunitária Direta. Para implementá-lo, será criada, a partir da mostra em Milão, uma Cadeia de Custódia provisória, formada por comunidades das zonas rurais e de periferias, técnicos de várias áreas e instituições – a exemplo da Escola Italiana de Design, São Luís Convention & Visitors Bureau e Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento do Nordeste Brasileiro.

O modelo de certificação estimulou os compradores na Itália, como Giovane Tremolata, destacado nome da marca Cassina e de outras marcas de design italiano, que se interessou em colocar a cadeira Kioto e outros produtos com design brasileiro no mercado europeu e já está procurando showroom para os móveis em Milão. “São móveis muito interessantes e contemporâneos e a proposta de certificação comunitária é um poderoso instrumento de marketing na Europa”, disse Tremolata.

Robson Oliveira, especialista em design e também coordenador do projeto, ainda tinha outras reuniões marcadas em Milão com representantes comerciais, e estava confiante que a parceria ítalo brasileira daria muito certo.

“A Itália está entrando com estratégias de marketing e comercialização e a escola italiana está participando com o desenvolvimento técnico para aprimoramento do produto”, revelou.

A comercialização das peças já começou, com parcerias junto a representantes internacionais para vendas e contatos na Europa, divulgação e apoios de revendedores com lojas nas cidades de Roma, Varese e Milão, que funcionarão como show rooms e espaço de promoção e de comercialização. A ITANE – Agência Italiana de Cooperação para Desenvolvimento do Nordeste - tem forte papel no contato com investidores italianos, arquitetos e grandes grifes de mobiliário internacional.

Fabricada em uma pequena marcenaria em Açailândia, ao sul do Maranhão e confeccionada a partir de sobras de madeira, com estofamento em fibras naturais , trabalhadas pelas artesãs da favela do Pirambu, em Fortaleza,a cadeira Kioto foi escolhida por seus criadores para representar uma iniciativa que está produzindo belos objetos de artesanato e de mobiliário em Estados do Nordeste do Brasil com grandes contingentes de população de baixa renda.

“A harmonia entre o formato elegante e a rusticidade das fibras naturais e dos blocos de madeira com texturas e tamanhos desiguais revela um design original, produzido com baixíssima tecnologia e alto índice de mão-de-obra, algo viável economicamente somente em regiões de baixo desenvolvimento. Esse modelo de produção garante geração de emprego e renda diretamente nessas comunidades vulneráveis, além de assegurar a não utilização de trabalho escravo nem infantil”, explica o arquiteto Marco Ricciopo, designer e também coordenador do projeto.

“Além disso”, acrescenta Robson Oliveira, “o projeto prevê um real trabalho de recomposição florestal, baixíssimo custo de implementação e um caráter inovador , se comparado à tradicional certificação de madeira, que muitas vezes transforma a floresta em mais uma comodity a ser exportada, sem nenhum ganho para as pessoas que estão ao seu redor”,afirma. Tal ação está sendo acompanhada por técnicos do Ibama-MA.

Foto - Carvoaria em Açailândia, Maranhão, onde população de baixa renda queima restos de madeira para cozinhar. Dentro do projeto Floresta Móbile, esta população deverá usar os restos de madeira para produzir móveis e objetos de design.


(Envolverde/Assessoria)

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