segunda-feira, 5 de maio de 2008

América Latina é opção para diversificar investimentos no mercado de carbono

Por Sabrina Domingos, do Carbono Brasil

A América Latina vem ocupando um papel cada vez mais importante no mercado de redução de emissões de carbono. Com o potencial de investimento aumentando, a região é considerada uma terra de oportunidade para o desenvolvimento de projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). Por outro lado, ainda enfrenta problemas relacionados com a falta de vontade política ou com a dificuldade de se viabilizar projetos de larga escala, por exemplo.

O vice-presidente da Amazon Carbon, empresa que atua no desenvolvimento de projetos de MDL no Brasil e no exterior, Augusto Leipnitz, entende que, além do pioneirismo do Brasil, a América Latina como um todo vem assumindo um papel de destaque no mercado mundial. “Não que China ou Índia estejam perdendo força, mas os grandes fundos e bancos compradores de créditos de carbono estão buscando uma diversificação natural de investimentos para a sua carteira de clientes e nada melhor que investir em outro continente para se atingir estes objetivos de mitigar o risco de não-performance contratual”, avalia.

A América Latina lançou o primeiro projeto pelo esquema do Protocolo de Quioto para compensação de gases do efeito estufa e, até a última semana, estava com 649 projetos em processo de aprovação na ONU – mais de 20% do total mundial. A maioria deles é voltada para energia renovável (principalmente PCH e co-geração) e para a captura e combustão de metano, seja na área de suinocultura, aterro sanitário ou tratamento de efluentes industriais. Em termos quantitativos, os projetos propostos na América Latina representam mais créditos de carbono per capita do que em qualquer outra região do mundo.

Para poucos

O fato é que os grandes números contam apenas parte da história. Apesar do potencial latino-americano como produtor de crédito de carbono, os progressos em esquemas de redução de emissões ainda permanecem incompletos. “Basicamente poucos dos países tiram vantagem do mercado de carbono”, afirma Alberto Carrillo, pesquisador e desenvolvedor de projetos de carbono da EcoSecurities.

Brasil e México lideram, com 255 e 182 projetos registrados na última semana para aprovação na ONU. O mapa de MDL restante é impreciso. Alguma atividade esporádica é vista na Argentina, no Chile, em Honduras, no Equador, Peru e na Guatemala. Venezuela, Belize e várias das ilhas caribenhas estão ainda por se caracterizar.

Leipnitz acredita que falta uma maior organização por parte das Autoridades Nacionais Designadas desses países menores. “A confiabilidade da aprovação nacional por parte dos investidores é baixa na América Latina, o que acaba aumentando o risco de projeto e baixando o valor pago pelas toneladas de carbono equivalente; assim como a identificação de possibilidades de projetos MDL dentro destes países”, avalia. Ele afirma que a falta de empresas locais de desenvolvimento de projetos MDL também é um fator a ser levado em consideração.

A pouca vontade política é outro fator que compromete o desenvolvimento do mercado na região. Com a experiência de três décadas de produção de etanol, as autoridades brasileiras estavam mais preparadas para se adaptarem ao MDL, enquanto os outros países precisaram começar do nada. O Brasil, além de contar com o maior número de projetos MDL em todo o continente, possui representantes políticos com grande conhecimento das questões climáticas e com voz ativa para defender interesses brasileiros e latino-americanos no cenário internacional, como em reuniões do G8+5, explica Leipnitz.

Um número limitado de desenvolvedores de projetos locais também compõe o problema. Os que estão no mercado geralmente não têm acesso aos financiamentos de carbono necessários para fazer suas idéias funcionarem na prática.

Desenvolvedores e operadores internacionais de projetos, todavia, continuam otimistas em relação à habilidade de se maximizar o potencial da América Latina. Um passo nesse sentido é a derrubada gradual de antigas barreiras técnicas. O nível de expertise em setores que a América Latina apresenta tendência de investimento (como metano de aterros sanitários e o biogás da agricultura) só tem aumentado. No entanto, com os projetos de larga escala na região ficando mais escassos, os desenvolvedores de projetos tendem a diversificar as atividades.

“A maior dificuldade encontrada na América Latina é o volume de RCEs por ano que os compradores buscam em um projeto MDL - que giram em torno de 40 mil toneladas de CO2 equivalente por ano”, afirma Leipnitz.

“Como os projetos são menores, existe a dificuldade atualmente de se viabilizar alguns projetos devido ao prazo de geração de créditos de carbono dentro do Protocolo de Quioto estar cada vez mais curto (atualmente menos de quatro anos), principalmente porque, em média, da confecção do PDD até o registro do projeto, levamos hoje 12 meses para iniciar o período de redução de gases do efeito estufa”.

Oportunidades

Os projetos executados na América Latina tem a vantagem de não possuir um grau de risco muito alto. A área de metano da agricultura atrai o interesse do mercado, principalmente porque esse gás tem um poder de aquecimento global 21 vezes maior do que o dióxido de carbono (CO2) – o que torna o seu seqüestro uma grande fonte de Reduções Certificadas de Emissões (RCEs).

Outro setor que chama atenção é o de energias renováveis – mais especificamente projetos de pequenas centrais hidrelétricas e de usinas eólicas. Pelo Proinfa, o governo brasileiro oferece impostos fixos aos desenvolvedores de projetos que atuam com essas tecnologias. O esquema também inclui acordos de compra de energia de longo prazo com a Eletrobrás.

“Esses tipos de projetos são atrativos porque geram lucro a partir da venda de eletricidade”, afirma Francesca Cerchia, que gerencia o mercado de carbono na América Latina para a Econergy Internacional.


Portfolio

É comum que a falta de RCEs baratas e em grande volume na América Latina faça com que os grandes investidores busquem os mercados asiáticos, principalmente China. Mas para os investidores varejistas, institucionais ou compradores de créditos sob o esquema de Quioto com interesses asiáticos já consolidados, a América Latina representa uma chance de balancear os riscos geográficos e metodológicos de exposição.

Para tornar as tecnologias de baixa produção de RCEs da região mais atrativas ao mercado, alguns desenvolvedores de projetos começaram a reunir vários projetos em um único pacote de MDL.

Um exemplo é o projeto que une captura de metano, cogeração de energia e substituição de combustível fóssil proposto pela Fedepalma – Federação Nacional de Produtores de Azeite de Palma da Colômbia. Atualmente submetida para avaliação, a proposta contempla31 plantas de extração em quatro regiões produtores de óleo de palma no país. Combinada sob um único esquema de MDL, a iniciativa deverá gerar a impressionante quantia de 746 mil RCEs por ano.

Claro que existem riscos. Além da complexidade de se monitorar múltiplas áreas, basta que apenas um dos projetos do pacote vá mal para que toda a meta de RCEs seja perdida.

Uma aposta mais segura é apresentada pela MGM Internacional, uma outra desenvolvedora internacional de projetos que opera na América Latina. Em 2006, a companhia montou um único portfolio de investimento para uma série de projetos de MDL sobre os quais possui direitos de comercialização. O inventário atual da empresa conta com mais de 40 milhões de RCEs.

No entanto, as baixas quantidades de créditos de algumas metodologias existentes continuarão a empacar o mercado. A companhia irlandesa AgeCert, por exemplo, anunciou recentemente que vendeu mais do que a sua capacidade de produção.

O imponderável continuará após 2012, quando se expiram os compromissos do Protocolo de Quioto. As incertezas sobre o futuro do MDL mantêm muitos investidores com pé atrás na hora de comprar créditos provenientes de metodologias que não prometem o retorno rápido.

Leipnitz acredita que o atual cenário pouco se alterará antes de uma definição de um acordo pós-2012, quando se poderá ter certeza, pelo que se desenha atualmente, de que os projetos terão compradores até 2020.

* Com informações do site Ethical Corporation

(Envolverde/Carbono Brasil)

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