sexta-feira, 4 de abril de 2008

Desmatamento volta a crescer na Amazônia em época de chuva

Em fevereiro, primeiro mês das medidas anunciadas pelo governo federal para combater o atual repique da derrubada da floresta na Amazônia, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectou 725 km2 de desmatamento. É um número 13,4% mais alto do que o registrado em janeiro - 639 km2.

Os dois meses fazem parte do inverno amazônico, período de chuvas na região, quando é mais difícil a ação no campo. Mesmo assim, o valor é mais alto do que o registrado nos meses de agosto, setembro e outubro do ano passado, quando o clima estava mais seco - perde apenas para novembro e dezembro, quando houve o alerta no governo federal.

A maioria da área detectada, 88%, está em Mato Grosso. Mas isso não significa que ali tenha havido mais desmatamento do que em outros Estados amazônicos - o número pode ser ainda maior. ''Havia muitas nuvens sobre o Pará e Rondônia'', explica o diretor do Inpe, Gilberto Câmara.

Esses dois Estados costumam também apresentar taxas significativas de desmate, mas ficaram escondidos dos olhos do satélite pelas nuvens. Somente 12,5 km2 de desmatamento foram registrados no Pará em fevereiro e 9,6 km2, em Rondônia. Já em Roraima, Estado normalmente com pouco corte florestal, mas menos coberto por nuvens em fevereiro, foram detectados 51,7km2 de vegetação alterada.

As informações foram coletadas pelo Sistema de Detecção em Tempo Real (Deter), usado para alertar as autoridades sobre grandes alterações na cobertura florestal - corte raso, quando toda a vegetação é suprimida, ou degradação - a fim de agilizar a fiscalização. Sua metodologia tem sido questionada pelo governo mato-grossense.

"Os dados do Deter de fevereiro mostram, por exemplo, duas áreas no município de Feliz Natal que teriam sido desmatadas, uma de 3 mil e outra de 4 mil hectares. Num sobrevôo, vimos que se trata de degradação progressiva", afirma Salatiel Araújo, secretário-adjunto de Qualidade Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente de Mato Grosso. O órgão não computa degradação como desmate.

CRESCIMENTO

O Deter não é o sistema ideal para medir a área desmatada, porém é usado pelo governo federal, desde 2005, como indicativo de tendência. Foram dados do Deter do segundo semestre de 2007 que deflagraram, neste ano, a operação Arco de Fogo de combate à derrubada ilegal; o recadastramento de terras em 36 municípios críticos; e a publicação de uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre crédito rural (leia mais no texto abaixo).

Para o diretor-adjunto da ONG Amigos da Terra, Mario Menezes, os dados confirmam a tendência de crescimento do desmatamento em 2008, alimentado pelo setor agropecuário aquecido e pela proximidade das eleições municipais. ''Esse processo não pára de forma abrupta. A ação do governo não dá uma resposta imediata'', afirma. ''Você pressiona de um lado, em um município ou Estado, e há vazamento do desmatamento para outro.''

Menezes acha difícil que o desmatamento seja controlado neste ano e critica as medidas anunciadas pelo governo. ''A resolução do CMN, por exemplo, não tem efeito prático.''

O pesquisador Adalberto Veríssimo, do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), acredita que a tendência demonstrada pelo Deter será confirmado depois pelo sistema oficial, o Prodes. ''Temos cerca de 1.300 km2 derrubados apenas nos dois primeiros meses do ano. E, como o Deter só pega desmatamentos grandes, acima de 25 hectares, normalmente o sistema não superestima (a área desmatada) mas subestima.''

O Deter não gerou dados nos primeiro meses de 2007, o que impossibilita a comparação direta. Mas Veríssimo acredita que, mesmo assim, os valores deste ano merecem atenção. ''Esse número mantém a taxa de corte muito elevada, para um período normalmente com taxa baixa'', diz Veríssimo. O Imazon mantém um sistema de detecção de desmatamento em Mato Grosso em Pará. Os dados do primeiro trimestre ainda não foram divulgados.

O governo federal teme que, se a tendência mostrada pelo Deter se confirmar, a área desmatada confirmada no fim do ano pelo sistema Prodes mostrará uma curva ascendente após três anos consecutivos de queda.
(Fonte: Cristina Amorim / Estadao.com.br)

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