quarta-feira, 30 de abril de 2008

Desacelerar para "esfriar" a Terra

Geração verde. Para os estudiosos, é fato que a eficiência é um dos principais mecanismos para reduzir o impacto causado pela produção de energia. Racionalizando o uso do insumo, é possível diminuir a emissão dos fluidos que aceleram o aquecimento da terra. Mas, ao invés de economia, termelétricas à base de fontes fósseis - como carvão, óleo diesel e gás natural - têm sido cada vez mais necessárias, para suprir a demanda nacional. Por isso, especialistas afirmam: "se a preocupação é impactar menos o meio ambiente, economizar energia é a solução". No último dia da série "Energia Verde", além da opinião de técnicos sobre o tema, algumas iniciativas do setor privado e do governo apontam caminhos para a eficientização.

Um dos países mais ricos em recursos hídricos do mundo - o Brasil. Um sistema de geração de energia que utiliza mais de 80% do insumo produzido por meio de usinas hidrelétricas. Produção esta, considerada pelos órgãos de monitoramento do setor, limpa e barata. Porém, para chegar a cada megawatt médio dos cerca de 36 mil megawatts médios gerados, hoje, no País, através das quedas d'água, diversos pontos precisaram desaparecer. A inundação de localidades, por meio da construção de barragens, é responsável pela morte e conseqüente decomposição de espécies vegetais e animais. A desintegração libera o gás metano - fluido 21 vezes mais poluente que o dióxido de carbono (CO2).

Para o coordenador do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade de Pernambuco (UPE), Fábio Pedrosa, com base nos impactos ambientais, é difícil falar em geração completamente limpa. "Não há dúvidas que a hidrelétrica é a geração menos poluente, quando comparada à térmica. Mas ainda assim há danos". Ele destaca que os efeitos negativos das usinas à base da força da água não estão somente no momento da construção dos reservatórios, mas no monitoramento da vazão defluente.

Conforme argumenta, se, por exemplo, a liberação de água dos reservatórios é muito reduzida pode provocar o acúmulo de micro partículas de argila, que flutuam na água - gerando assim um processo de assoreamento. "O fluxo alterado pode causar uma maior concentração dos dejetos lançados nos rios, diminuindo o oxigênio da água", acrescenta. "Por esses motivos, é preciso cuidado com o crescimento do consumo de energia. Afinal, novas geradoras são necessárias. Até a bacia do rio Amazonas está sendo alvo da construção de hidrelétricas (de Santo Antôno e Jirau, no rio Madeira). Isso preocupa, por causa da riqueza da área".

No tocante ao futuro dos recursos naturais para a geração do insumo, os especialistas dizem haver limitação apenas quanto às hidrelétricas, visto a exploração de boa parte do potencial hídrico. "No Nordeste, quase não existem mais pontos com queda d'água capaz de gerar energia", lembra Pedrosa. Em relação às demais matrizes, o doutor em Ciências Térmicas e professor da UPE, Alcides Codeceira, pondera ser de extrema importância o momento da escolha dos tipos de geradoras. "Fontes como a biomassa (por meio de bagaço de cana-de-açúcar, por exemplo), o urânio (nuclear), a eólica e a solar poluem menos e podem ser um bom suporte para a produção hidrelétrica. Até mesmo a matriz pela força das ondas do mar, que está em fase de estudo, pode vir a ser uma alternativa", observa Codeceira, que conclui: "Precisamos ser mais eficientes e menos poluentes. A energia mais barata é a economizada". Leia também

Residência deve gastar menos

Fazer a troca de dez milhões de refrigeradores. Com a proposta do programa federal, anunciada há cerca de três semanas pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e que está sendo chamada de "bolsa-geladeira", o Governo Federal espera reduzir os índices residenciais de consumo energético. Segundo dados do ministério, os equipamentos são responsáveis por cerca de 25% de toda a demanda energética de uma família de baixa renda.

Conforme estudo realizado pela BSH Continental, subsidiária da Bosch Eletrodomésticos, caso sejam trocados, anualmente, 3 milhões de aparelhos velhos por equipamentos com gás isobutano - encontrado naturalmente na atmosfera e de impacto quase nulo para o meio ambiente - será possível evitar a emissão de aproximadamente 500 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2). Ao fim do programa, que deve ser iniciado em setembro, com a inutilização de dez milhões de refrigeradores, será poupada a liberação de 1,6 milhão de toneladas de CO2.

O governo espera fechar parcerias com estabelecimentos que façam a revenda dos eletrodomésticos. A loja irá receber a geladeira velha, para reciclagem da estrutura e retirada do gás. Os consumidores de baixa renda poderão comprar os refrigeradores sem impostos e em parcelas, com financiamento da Caixa Econômica Federal (CEF).

"O que está certo é o recolhimento obrigatório da geladeira antiga. Pois pretendemos dar o devido tratamento à sucata do aparelho", informa o chefe de Planejamento e Conservação de Energia das Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás), Hamilton Pollis. O Ministério de Minas e Energia, disse, por meio do coordenador geral de Eficiência Energética do MME, Paulo de Tarso de Alexandria Cruz, que o projeto ainda está em estudo.

Arquitetura ajuda na economia

Vinte e cinco por cento de redução no consumo residencial de energia sem necessitar investir na troca de aparelhos ou em mudança brusca de hábitos. Apenas por meio de projetos arquitetônicos eficientes do ponto de vista energético, representantes do setor da construção civil acreditam ser possível chegar ao índice de economia. Segundo afirmam, desde a escolha do material para revestimento de edifícios e casas ao posicionamento e tamanho de janelas dispostas no ambiente interno podem contribuir para a menor exigência de mecanismos artificiais, como climatização e iluminação.

O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Serapião Ferreira Neto, observa que, caso seja mantida a proposta do projeto, havendo a utilização máxima da iluminação natural, dificilmente o consumidor não chegará a uma economia no uso de energia. Segundo o representante do setor, como o foco atual tem sido investir na sustentabilidade dos recursos, reduzindo o desperdício de energia e de outras fontes naturais, os diversos segmentos devem se concentrar em medidas capazes de aumentar a eficiência do consumo.

"Existe o projeto de uma casa em Florianópolis (Santa Catarina) em que, da demanda total da residência, apenas 20% de energia será do Sistema (Interligado Nacional - SIN). O restante virá de geração solar e da iluminação natural. É possível pensar em eficiência energética desde a construção", diz Ferreira Neto. De acordo com ele, algumas obras em Pernambuco já apresentam preocupação em eficientizar o consumo residencial. A construtora pernambucana Moura Dubeux, por exemplo, possui unidades com estrutura diferenciada. "Procuramos colocar janelas amplas, facilitando a entrada da luz do sol, e em posicionamento cruzado (uma de frente para a outra) para que o ambiente permaneça sempre arejado. Além de investir em fachadas de granito (material que absorve menos calor)", salienta.

Por Isabelle Costa Lima

Fonte: Folha de Pernambuco

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