segunda-feira, 10 de março de 2008

Lição de empresário: é possível lucrar sem destruir a floresta

A fiscalização das autoridades federais e do Pará nas madeireiras de Tailândia (235 quilômetros ao sul de Belém) desde o início do mês e a ocupação da cidade no início da semana passada por uma força de 300 homens da Polícia Federal e da Força Nacional de Segurança causaram a maior crise econômica e social da história da cidade, que em maio completa 30 anos.

Três mil pessoas foram demitidas e outro tanto deverá ser dispensado também. Mas há saídas. Todas dentro da legalidade. Quem aponta as alternativas são as pessoas que já estiveram ou ainda estão envolvidas com a atividade madeireira. Começa a se forjar uma nova mentalidade empresarial entre pessoas que chegaram à cidade quando ela ainda tinha umas poucas casas, lá se fixaram e fizeram fortuna, principalmente com a atividade madeireira.

Uma dessas novas mentalidades é a de Massao Ozaki, de 52 anos, formado em Administração de Empresas por uma faculdade do Paraná, que chegou a Tailândia com a roupa do corpo em 1988. Massao “tocou madeireira” até 1992. “Ganhei muito dinheiro”, conta. “Também perdi muito, porque me meti na política e acabei me quebrando.” Desde então, Massao saiu atrás de alternativas.

Na cidade, iniciou a construção de um hotel. Na setor rural, deu a partida a um projeto de plantio de pimenta-do-reino. Mais recentemente, começou a plantar a palmeira do dendê.

A lavoura já está com dois anos e meio e começa a frutificar. A primeira safra será colhida neste ano. Mais importante, ele fechou contrato com as distribuidoras da região e vendeu as safras dos próximos 25 anos. “O dendê é o futuro”, diz.

Massao plantou dendê em 100 hectares. A produtividade média da palmeira é de 25 toneladas por hectare e o preço, no momento, é de R$ 170 por tonelada, o que vai dar R$ 425 mil por ano. Levando-se em conta que o custo de produção é de 50%, ele terá lucro líquido de R$ 212,5 mil.

“Aqui em Tailândia não há nada mais lucrativo do que uma madeireira. A não ser uma mina de ouro ou de diamantes”, diz sem nenhum receio de errar o empresário Edson Schmidt, sócio do pai, Nestor, na Madeireira Cimatal, uma das pioneiras da cidade. “Mas é preciso buscar a diversificação, porque a madeira começa a escassear.” Foi por isso que, há dois anos, Nestor, um gaúcho de 67 anos, chamou os filhos e disse que não serraria mais. “Estava muito difícil encontrar a madeira certificada.” Ele já começou a procurar alternativas.

Pai e filho têm três fazendas que totalizam 6 mil hectares. Até agora estavam sendo preservadas para a extração de madeira. Mas, neste ano, eles vão pedir autorização para desmatar 20%, a área de corte regulamentada pelo Código Florestal. Vão criar gado, plantar mandioca - que tem mercado garantido - e trabalhar com o setor de sucos. Leia abaixo um pouco da história de Massao e Nestor, ambos filhos de migrantes, um de japoneses, outro de alemães. Ambos são exemplos de que é possível viver da floresta sem destruí-la.
(Fonte: João Domingos / O Estado de S. Paulo)

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