segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Dados de satélites rápidos estão de acordo sobre alta no desmate

O Brasil dispõe hoje de três sistemas de detecção via satélite para monitorar o ritmo da devastação amazônica. Os dois que enxergam a floresta com mais agilidade, independentemente das margens de erro, registram uma aceleração no desmate, tendência que é contestada pelo ministério da Agricultura e pelo governo de Mato Grosso.

"O ponto central é que existe um reaquecimento (do desmate)", afirma Carlos Souza Jr., da ONG Imazon. A instituição paraense é a única no Brasil com um sistema não-governamental, o SAD (Sistema de Alerta do Desmatamento), para observar o estado da floresta amazônica. Esse projeto, porém, funciona apenas no monitoramento de Mato Grosso e do Pará.

Os dados processados pelo Imazon são registrados pelo sensor Modis, no satélite Terra, da Nasa. O mesmo registro alimenta o Deter (Detecção de Áreas Desflorestadas em Tempo Real), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Ambos usam as mesmas imagens captadas do espaço, mas geram produtos diferentes. O Inpe - que usa o Deter como sistema de alerta, mas não para obter uma medida precisa de área desmatada - estimou em 7.000 km2 a área alterada na Amazônia entre agosto e dezembro de 2007.

O sistema usado para cálculo efetivo da área desmatada é o Prodes (Projeto de Estimativa de Desflorestamento da Amazônia), mais lento.

"A estimativa do Deter é meramente indicativa de tendência e seu objetivo é orientar os esforços de fiscalização do governo", disse Gilberto Câmara, diretor do Inpe, à Folha.

Segundo ele, a extrapolação divulgada na semana passada é bem confiável. "Esse cálculo é feito com base na proporção entre os números do Prodes e do Deter observada em anos anteriores. Em 2006, esta proporção foi de 60% e em 2007, de 40%. A extrapolação tem como base um histórico".

A margem de erro do Deter é de 20%, segundo o Inpe. É o dobro da estabelecida para o SAD, segundo Souza Jr. O Prodes - que usa dados dos satélites das famílias CBERS (do Brasil e da China) e Landsat (da Nasa) - divulga números só no segundo semestre, mas indica qual foi a área florestal ceifada com apenas 4% de margem de erro.

"Existem várias questões técnicas que podem levar ao erro. Mas tem também uma questão quase semântica importante", afirma Souza Jr.

Segundo o pesquisador, é fundamental informar ao modelo matemático usado no processamento das imagens o que deve ser visto como floresta e o que precisa ser registrado como área "degradada".

"Em Mato Grosso, às vezes, uma área detectada pelo SAD como degradada não virou ainda pastagem. Para nós (do Imazon) houve perda de biomassa florestal, mas, para a secretaria (do Estado) aquele área ainda não é alterada", disse Souza Jr. (Folha Online)

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