terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Biocombustíveis agravam aquecimento global e desmatamento no Brasil

Destruir ecossistemas naturais, como a floresta Amazônica brasileira, para dar lugar a cultivos destinados à produção de biocombustíveis agrava o aquecimento global, gerando, por muitas décadas, mais dióxido de carbono, o principal gás causador do efeito estufa, alertaram nesta quinta-feira (7) especialistas americanos.

"Se nós estamos tentando limitar o aquecimento global, é um absurdo desmatarmos para produzir os biocombustíveis", afirmou Joe Fargione, um pesquisador da Nature Conservancy, uma das mais importantes organizações privadas de proteção do meio ambiente, um dos autores deste estudo.

Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em 23 de janeiro passado, foram desmatados cerca de 7.000 quilômetros quadrados da Floresta Amazônica brasileira nos últimos cinco meses de 2007. Este número, que representa um aumento vertiginoso no ritmo do desflorestamento, foi atribuído pelas autoridades brasileiras, entre outros motivos, à disparada no cultivo da soja em algumas regiões.

No estudo divulgado nesta quinta-feira, os cientistas americanos explicaram que o forte aumento da demanda de etanol de milho nos Estados Unidos provoca a destruição crescente da floresta amazônica no Brasil, uma vez que para responder à demanda do etanol, os agricultores dos EUA pararam de alternar os cultivos de milho com as de soja. Desta forma, os brasileiros precisam produzir ainda mais soja para atender à demanda mundial insatisfeita, e isso acaba por afetar as florestas virgens, lamentaram eles.

"Todos os biocombustíveis que utilizamos atualmente promovem uma destruição da natureza, direta ou indiretamente", afirmou Fargione.

"A agricultura mundial já produz alimentos para seis bilhões de seres humanos e aumentar a produção de biocombustíveis forçará a antecipação do desmatamento de superfícies naturais para plantações", acrescentou o pesquisador.

O volume de CO2 encontrado na atmosfera oriundo da derrubada de florestas virgens, savanas, turfeiras ou estepes ultrapassa o volume de CO2 que não é emitido graças à utilização de biocombustíveis. Sendo assim, o desmatamento seria ainda menos favorável ao meio ambiente do que a não utilização dos biocombustíveis, afirmaram estes cientistas cujos trabalhos aparecem na revista "Science" de 8 de fevereiro.

Os desmatamentos para o cultivo do milho ou da cana-de-açúcar, a partir dos quais se produz etanol ou ainda da soja para biodiesel, são responsáveis por volumes de emissões de CO2 de 17 a 420 vezes maiores que a redução anual resultante da substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis, calcularam pesquisadores.

O carbono retido nas árvores e plantas derrubadas assim como o solo onde estavam estes vegetais, é lançado à atmosfera em forma de CO2 em um processo pode demorar muitas décadas, talvez séculos, segundo eles.

Os pesquisadores estimaram que na Indonésia, onde as turfeiras foram derrubadas para cultivar palmeiras de óleo a fim de produzir biodiesel, seriam necessários 423 anos antes que este biocombustível tivesse uma contribuição positiva na redução das emissões de CO2.

"Os governos não só não utilizam um sistema para encorajar os proprietários a limitarem as emissões de CO2, como também lhes oferecem incentivos financeiros para terem plantações destinadas a produzir biocombustíveis", revelou Stephen Polasky, professor de economia na Universidade de Minnesota, um dos co-autores deste trabalho.

"Incentivar o aumento da retenção do carbono pela natureza ou penalizar as emissões de CO2 oriundas de culturas é essencial para responder com seriedade a este problema", segundo ele.

Os autores deste estudo ressaltam, no entanto, que alguns biocombustíveis não contribuem ao aquecimento global porque deixam intacto o meio ambiente.

Eles citam os biocombustíveis obtidos a partir de dejetos agrícolas e florestais, como pedaços de madeira e como plantas herbáceas que são objeto de inúmeras pesquisas. (Globo Online)

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