quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Babaçu e côco da Amazônia abastecem primeiro vôo com biocombustível

Por Sabrina Domingos, do Carbono Brasil

O primeiro avião comercial a testar biocombustível decolou no último domingo (24) do aeroporto de Heathrow, em Londres, com destino a Amsterdã, na Holanda. O Boeing 747 da companhia Virgin Atlantic voou utilizando bioquerosene feito a partir de óleos de côco e babaçu da Amazônia. O avião, que não possuía passageiros a bordo, teve um de seus quatro motores abastecidos apenas com o novo combustível – o que representa uma mistura de 25% de bioquerosene ao querosene de avião convencional.

A iniciativa faz parte de um projeto que reúne a Boeing, a General Eletric, companhias aéreas e fabricantes de aeronaves na corrida para desenvolver uma alternativa viável ao atual combustível de aviação. A busca ocorre em função do aumento do preço do óleo e também pela responsabilidade cada vez maior atribuída ao setor em relação ao aquecimento global.

A brasileira Tecbio, da qual o professor Expedito Parente (considerado o pai do biodiesel) faz parte, possui parceria com a Boeing e a Nasa desde 2006 para o desenvolvimento de um biocombustível para a aviação. A entidade, no entanto, não se manifesta sobre o assunto devido a um contrato de confidencialidade.

A Virgin acredita que em dez anos as linhas aéreas poderão utilizar a energia de plantas normalmente. “Há dois anos, as pessoas diziam que esse vôo seria impossível, que o bioquerosene congelaria a 30 mil pés de altura. O teste deste domingo foi puramente para provar que os biocombustíveis funcionam na aviação comercial”, afirma o bilionário Richard Branson, que controla a Virgin.

O Boeing 747 pousou no aeroporto de Amsterdã depois de atingir a altitude máxima planejada de 25 mil pés, informou a Virgin, que não forneceu mais detalhes sobre o teste. A Autoridade de Aviação Civil do Reino Unido aprovou o vôo. O avião agora será levado para manutenção e o motor que recebeu bioquerosene será examinado.

O uso de cerca de 25% de biocombustível serviu para reduzir o risco do vôo, uma vez que os demais motores são capazes de fornecer a potência necessária para o avião caso haja qualquer problema. Branson diz que os testes mostraram ser possível voar com até 40% de bioquerosene na mistura.

Solução?

Hoje o combustível representa de 30% a 50% dos custos das companhias aéreas e a aviação contribui com cerca de 2% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2). A expectativa do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU é de que esse volume cresça para 3% até 2050.

A Virgin diz que o uso de biocombustível ajuda no corte das emissões de gases causadores do efeito estufa. "Alguns de nós na indústria estamos de fato fazendo algo para reduzir nossas emissões de carbono. Eu não considero que seja só propaganda - é progresso, é de fato reduzir a contribuição da indústria da aviação nas emissões de CO2", afirma Paul Charles, diretor de comunicações corporativas da Virgin.

Ambientalistas, por outro lado, acreditam que a iniciativa do bioquerosene não pode ser vista como uma solução para reduzir as mudanças climáticas, pois a produção de alimentos seria afetada com a utilização de plantações para gerar combustível. "Nós achamos que o vôo de biocombustível da Virgin é mais uma distração das soluções reais para as mudanças climáticas", afirma Kenneth Richter, do grupo ambientalista Friends of the Earth.


* Com informações de agências e jornais internacionais.

(Envolverde/Carbono Brasil)

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