segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Uma cozinha contra o clima

Por Daniela Estrada

Para minimizar a mudança climática, um restaurante de Santiago do Chile aproveita melhor o calor e a energia, compra eletricidade limpa e certificados de carbono.

SANTIAGO, 10 de dezembro (Terramérica).- O restaurante vegetariano El Huerto, em Santiago, é o primeiro do Chile a decidir combater suas emissões de dióxido de carbono. E agora, graças a uma iniciativa independente, qualquer cidadão poderá fazer o mesmo pela Internet. El Huerto, com capacidade para cem pessoas, abriu suas portas em 1980 no calmo bairro de Providencia e hoje goza de fama entre os amantes da comida saudável e da natureza.

Fiéis à sua consciência ecológica, seus proprietários, José Fliman e Nicole Mintz, decidiram, em junho, dar um passo que os levará para além das famosas tortas de alcachofra e verduras sauté: neutralizar o dióxido de carbono, um dos gases causadores do efeito estufa, liberado na atmosfera pela cozinha e pelo serviço aos clientes. “Queremos reduzir nosso consumo de energia e compensar o que não podemos economizar”, disse ao Terramérica Fliman, que deixou o processo nas mãos do governamental Instituto de Ecologia Política (IEP).

Inicialmente, o IEP fez a análise energética do El Huerto, que emite anualmente 64,65 toneladas de dióxido de carbono pelo consumo de eletricidade térmica e combustíveis fósseis como gás, parafina, carvão e benzina. Depois fez um plano de economia energética de 12% ao mês com conselhos práticos e painéis educativos para mudar os hábitos dos mais de 20 trabalhadores do concorrido restaurante. “A explicação que o Instituto nos deu sobre a mudança climática nos fez tomar consciência da gravidade do problema”, disse ao Terramérica a garçonete Isabel Carvajal.

As lâmpadas foram trocadas pelas de baixo consumo, foram selados vazamentos de ar para reduzir o uso de calefação no inverno e instalados toldos do lado de fora das janelas para reduzir a entrada de calor no verão. As panelas são tapadas para reduzir o tempo de cozimento dos alimentos, armazena-se água em recipientes próprios e apaga-se as luzes desnecessárias. A avaliação final do processo acontecerá em novembro de 2008. Por outro lado, o restaurante decidiu compensar todo o dióxido de carbono emitido em 2007 comprando eletricidade limpa e bônus de carbono, destinados a financiar projetos de baixa ou nenhuma liberação de gases causadores do efeito estufa.

El Huerto compra eletricidade da El Rincón, uma central hidrelétrica que aproveita a energia natural dos rios sem acumular a água em represas. Em agosto, o próprio IEP certificou que a El Rincón produzia energia limpa, respeitando o meio ambiente e a população, segundo os padrões da Rede Européia de Eletricidade Verde. O restaurante também compra bônus de carbono da Climate Care, que utiliza o dinheiro para implementar projetos limpos em nome de seus clientes. O El Huerto desembolsou US$ 770 pela compensação de 2007. No dia 30 de novembro, entregou US$ 295 à El Rincóin, que gera 2,4 quilowatts por hora.

À Climate Care, que concede certificados ou autorizações para emitir uma tonelada de carbono por US$ 15, correspondem cerca de US$ 475. A proprietária da El Rincón, a Associación de Canalistas de Maipo, principal rio que abastece de água a capital, utilizará o dinheiro na operação da geradora e na manutenção da rede de canais que a abastecem, disse ao Terramérica seu gerente-geral, Alejandro Gómez. A Climate Care investirá o dinheiro em seu portfólio de projetos de energias renováveis não convencionais e de eficiência energética. “Isto reforçará nossa imagem diante dos consumidores. Se eu fosse exportador, não pensaria duas vezes para competir com empresas de outros países”, disse Fliman.

O El Huerto utiliza 20% de suas matérias-primas orgânicas, elaboradas sem agroquímicos. A proporção não é maior porque o mercado interno é pequeno e por problemas de distribuição, explicou o proprietário. “Ser responsável por sua marca ecológica proporciona às empresas benefícios de imagem ou de competitividade no mercado”, disse ao Terramérica Matias Steinacker, representante da Climate Care na América Latina. Porém, essa tendência apenas começa no Chile. Em novembro, foram compensadas emissões de dióxido de carbono produzidas em um encontro organizado pelo governo com investidores em energias renováveis e Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL).

Os MDL permitem a governos e empresas de nações industrializadas, obrigadas a reduzir seus gases causadores do efeito estufa, a cumprir em parte esse objetivo investindo em projetos limpos em nações em desenvolvimento para obter reduções certificadas de emissões a custos menores. Para Fliman, o mais reconfortante foi ver a mudança de hábitos de seus funcionários “porque dessa forma vai se criando uma rede”. Segundo dados das Nações Unidas, o Chile é o país latino-americano que mais aumentou suas emissões anuais de carbono entre 1990 e 2004, de 35,6 milhões de toneladas para 62,4 milhões.

Porém, a contribuição chilena para a mudança climática é de 0,2% do total. A emissão de dióxido de carbono por habitante é de 3,9 toneladas anuais. Para comprometer os cidadãos na cruzada contra a mudança climática, o IEP lançou a iniciativa “Zerodióxido de carbono”, em uma página da Internet, onde qualquer pessoa pode calcular suas emissões desse gás e encontrar orientações para reduzi-las e compensá-las pagando de forma eletrônica.

* A autora é correspondente da IPS.

LINKS EXTERNOS

+Instituto de Ecología Política
http://www.iepe.org/

+Climate Care, en inglés
http://www.climatecare.org/

+Cerodióxido de carbono
http://www.ceroco2.cl

(Envolverde/Terramérica)

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