Brasileiros obtêm na Antártica registro inédito de mudanças climáticas globais Roberta Jansen escreve para “O Globo”: Um grupo de pesquisadores brasileiros obteve registros inéditos das mudanças do clima do planeta numa das regiões mais sensíveis do mundo a alterações climáticas, o norte da Península Antártica. Os cientistas conseguiram retirar de mais de 100 metros de profundidade, amostras de um gelo muito antigo — o chamado testemunho do gelo — que guardam encapsuladas em bolhas de ar as alterações na composição da atmosfera. Pela variação da química do ar, é possível acompanhar a evolução do clima. — Ainda não analisamos o material, mas acreditamos que ele abarcará os últimos 200 anos — afirmou o glaciologista Jefferson Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), coordenador da expedição. — Isso engloba a Revolução Industrial e vários ciclos de El Niño e La Niña. Gelo já seguiu para análise nos EUA Os testemunhos do gelo, os cilindros de gelo obtidos pela perfuração na Antártica e no Ártico, têm se revelado o melhor arquivo sobre a evolução do clima ao longo de milhares de anos. Os estudos, explica Jefferson, permitiram determinar variações de concentração de gases estufa na atmosfera nos últimos 720 mil anos, alterações de temperatura, explosões vulcânicas, processos de desertificação, mudanças abruptas no clima. Os resultados desses estudos foram cruciais para determinar o aumento da concentração de CO2 na atmosfera nos últimos anos e relacioná-lo à elevação das temperaturas globais. Consistem ainda uma das principais fontes de dados para o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU. Desta vez, no entanto, os cientistas acreditam que conseguirão dados ainda mais acurados sobre as alterações climáticas, uma vez que a perfuração foi feita numa das áreas mais sensíveis a mudanças no clima. Esta região ao norte da Península Antártica registrou o maior aumento de temperatura global — três graus Celsius nos últimos 50 anos. Foi nesta área também que ocorreu o colapso da plataforma de Larsen — uma área de mais de dois mil quilômetros quadrados de gelo que se desprendeu em 2002, num evento geológico sem precedentes. Por essas características da região, os cientistas brasileiros acreditam que o gelo obtido ali pode trazer informações cruciais sobre o clima da Terra e, especificamente, sobre a relação entre essas alterações e a América do Sul. Os cilindros de gelo obtidos estão sendo enviados para laboratórios nos EUA e no Brasil, onde serão estudados. (O Globo, 27/12)— São mais de dez parâmetros a serem analisados — explicou Jefferson Simões. As escavações foram feitas numa área chamada de Platô Detroit, a dois mil metros de altitude e a 40 km de distância da costa. A região é tão isolada que o acesso é feito apenas por avião ou esquis. Os nove cientistas brasileiros tiveram que contar com o apoio da Força Aérea do Chile para alcançar o platô. Foram 29 dias de acampamento, praticamente isolados na neve, sob temperaturas que alcançavam 23 graus Celsius negativos durante a noite, com sensação térmica estimada em 37 graus negativos. |
quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
Testemunhos gelados
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário