quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Florestas, a última esperança verde?

Por Stephen Leahy, da IPS

Toronto, 05/12/2007 – As florestas da União Européia estão em expansão e absorveram 125 milhões de toneladas de dióxido de carbono entre 1990 e 2005, o equivalente a 11% das emissões humanas desse gás na região. Por outro lado, o mundo superou a meta de plantar um bilhão de árvores, a maioria na África, estabelecida pela Organização das Nações Unidas. “A redução de dióxido de carbono na atmosfera por causa das florestas mais do que duplicou a correspondente aos programas de energia renovável da Europa”, disse Pekka Kauppi, diretor de um estudo realizado pela Universidade de Helsinque a respeito.

A melhor conservação, a migração para as cidades e a conversão de terras agrícolas não usada são a razão por trás do crescimento das florestas, principalmente na Letônia, Lituânia, Suécia, Eslovênia, Bulgária e Finlândia, disse à IPS Kauppi, cujo informe foi publicado pela revista britânica Energy Policy no final da semana passada. O estudo se baseia em estatísticas fornecidas por governos e que não foram verificadas de maneira independente. A conseqüente “remoção surpreendentemente alta de dióxido de carbono” pode ser o principal fator para que a UE consiga em 2020 seu ambicioso objetivo de reduzir em 20% suas emissões de gases que causam o efeito estufa, disse Kauppi.

“Em nível mundial, há esperança pelo que ocorra no futuro, caso detenhamos o desmatamento e as florestas tenham uma expansão”, acrescentou o especialista. Por essa razão, deveriam ser destinados créditos de carbono às florestas salvas, o que daria aos países onde estão localizadas ou aos proprietários dessas terras incentivos financeiros para a conservação, afirmou Kauppi. O comércio destes créditos é um complexo sistema previsto no Protocolo de Kyoto, assinado em 1997. Por este esquema, companhias de países industrializados que emitem gases causadores do efeito estufa podem comprar créditos em países em desenvolvimento.

Trata-se de um dos mecanismos de desenvolvimento limpo previstos no Protocolo, que permitem a governos e empresas do Norte cumprir suas metas de redução de gases que levam ao efeito estufa, em parte, investindo em projetos limpos em nações do Sul. Mas, há intensos debates a respeito. “As florestas são uma pequena cura’, disse à IPS Mike Flannigan, pesquisador do Serviço Florestal do Canadá. “No final, as florestas morrem e liberam na atmosfera todo o dióxido de carbono que armazenam. No longo prazo, as florestas são neutras”, acrescentou. Isto significa que não têm influencia na contabilidade dos gases em grandes períodos.

As florestas podem ser “lixões de carbono”, porque absorvem o gás em excesso da atmosfera durante 60 anos ou mais até chegarem à maturidade. Mas, ninguém sabe quanto pode viver uma árvore plantada hoje. O clima, as enfermidades vegetais e os incêndios podem reduzir seu tempo de vida. Um dia depois de divulgado o estudo de Kauppi, pesquisadores da holandesa Universidade Wageningen informaram que uma queda na emissão de nitrogênio na atmosfera reduziria o crescimento das florestas, o que, por sua vez, reduziria sua capacidade de “seqüestrar” o dióxido de carbono.

As medidas de controle da contaminação para melhorar a qualidade do ar reduzem as emissões de nitrogênio, e as árvores precisam deste gás – e do carbono – para crescer. As florestas do Canadá se tornaram uma enorme fonte de dióxido de carbono, principalmente pela acelerada propagação da peste transmitida pela mosca montanhesa dos pinos e os incêndios sem precedentes dos últimos anos. Os dois fatores têm, ao que parece, conseqüências climáticas, aquecendo e secando as florestas do ocidente do país. “As elevadas temperaturas aumentam a taxa de evaporação e secam as florestas”, explicou Flannigan. Isso aumenta as possibilidades de fogo.

Canadá e Rússia perdem por ano vários milhões de hectares de florestas para os incêndios e, em menor medida, também o Alasca e a Austrália. As florestas boreais e sua turba superficial contêm cerca de um terço do carbono armazenado pela Terra. As terras de turba absorvem dióxido de carbono durante milhares de anos e secam e queimam, a catástrofe climática estará virtualmente garantida. Na medida em que aumenta a temperatura mundial, as terras de turba secarão, o que torna imperativa a redução das emissões humanas de dióxido de carbono, advertiu Flannigan.

“A concepção das florestas como lixões de carbono são um desvio do problema real: a redução de emissões” de origem humana, com as causadas pelo uso de combustíveis fósseis como petróleo, gás e carvão, acrescentou o especialista. Mas, as florestas devem ser protegidas e reflorestadas, devido à sua capacidade de limpar e armazenar água, gerar oxigênio, refrescar as cidades e fornecer habitat à biodiversidade, disse Flannigan. Felizmente, esses benefícios se consegue sem importar os motivos pelos quais as árvores são plantadas.

No planeta há, pelo menos, bilhões de árvores novas graças a uma campanha da ONU realizada na Etiópia e no México, informou na semana passada o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Na Etiópia foram plantadas 700 milhões de árvores. Porém, apenas 3% do território desse país conta com floresta, quando há séculos eram 40%. Vários milhões foram plantados na Guatemala, China e Espanha, conforme será anunciado em breve. Segundo diversas versões, a Indonésia plantou 80 milhões. O Pnuma assegura que cidadãos individuais foram responsáveis pelo plantio de metade dessas árvores, mas, admitiu não ter verificado se as versões dos governos eram certas. (IPS/Envolverde)

(Envolverde/ IPS)

Nenhum comentário: