segunda-feira, 2 de julho de 2007

Unicamp produz tecnologia para biodiesel mais "verde"

A tecnologia é 100% nacional e vai contribuir para que o processo de produção de biodiesel no Brasil fique mais versátil e, finalmente, menos sujo.

O novo processo desenvolvido pela Unicamp - Universidade Estadual de Campinas, a partir do trabalho do pesquisador Antonio José da Silva Maciel, ao lado de uma equipe de colaboradores, permite que o tóxico metanol, por exemplo, não seja mais usado no processo de fabricação do biodiesel.

Apesar de ser vendido como um combustível "verde", na prática quase todo o processo de produção de biodiesel hoje no Brasil usa até 25% de metanol bruto para cada litro produzido na usina. Além de tóxica, a substância é derivada de gás natural, um combustível fóssil.

"Além da questão ambiental, existe algo até mais importante que é a independência econômica que essa tecnologia vai possibilitar", disse Maciel à Folha. O catalisador feito da Unicamp, já considerado de terceira geração, também pode funcionar a partir do álcool. "A eficiência dele, tanto com etanol quanto com metanol, é de 90%", afirma o pesquisador.

Com essa versatilidade, o produtor poderá escolher qual a substância será agregada à matéria-prima, soja, por exemplo, dentro do catalisador, uma das máquinas da usina. Tanto o álcool quanto o metanol ajudam na quebra da gordura animal ou do óleo vegetal, que resulta no biodiesel e em outros produtos, como a glicerina.

A tecnologia nacional, informa o cientista, já foi licenciada, sem nenhum tipo de exclusividade, para duas empresas em Mato Grosso. "A comercialização ocorreu com a Biocamp e a Cooperbio", disse Maciel.

Investimento pesado em tecnologia também é a saída para o Brasil não perder o passo, segundo outro pesquisador entusiasmado com biodiesel brasileiro, Miguel Dabdoub, da USP.

"O metanol é uma substância tóxica, sem dúvida. Mas o biodiesel, mesmo produzido com ele, será renovável se for usada toda uma tecnologia que permita a recuperação da substância durante o processo", explica o pesquisador.

Nas contas dele, metade do metanol usado na produção do biodiesel pode ser perfeitamente recuperado, dentro do que ele chama de ciclo fechado. O problema, segundo Dabdoub, é que, na prática, muitas usinas no Brasil estão partindo para a improvisação.

Fundo de quintal - "Muita gente está fazendo "fabriquinhas" pequenas, de fundo de quintal. Tem até algumas usinas de porte médio também que não estão recuperando o metanol. E o que vai ocorrer então com o ambiente nesse caso?"

A resposta é óbvia, segundo o próprio pesquisador. "Um dos pontos é o descarte de efluentes líquidos. A água descartada é contaminada com metanol e com outros produtos químicos derivados dos catalisadores."

O outro produto decorrente da produção de biodiesel nas usinas, a glicerina, também preocupa Dabdoub. "Tem empresa que está armazenando a glicerina. Mas isso não pode ser feito para sempre. A produção de 50 milhões de litros por ano gera 5 milhões de litros de glicerina", diz o pesquisador da USP.

A outra solução disponível no mercado hoje é vender esse material para as empresas dos setores farmacêutico e cosmético, que usam a glicerina como matéria-prima.

O pesquisador da USP está confiante que o Brasil vai continuar na vanguarda tecnológica do biodiesel. "O que temos que fazer é exportar e compartilhar a tecnologia. Criar a competência para criar um mercado."

Folha Online

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