quarta-feira, 4 de julho de 2007

A água e as mudanças climáticas

Marçal Rogério Rizzo (*)


Diante de tantas mudanças climáticas, o que pode acontecer ao Brasil, no que diz respeito à água? Tentando ampliar o grau de reflexão sobre tal questionamento, digo o que não vai acontecer, mas, sim, o que já está acontecendo.

As conseqüências das mudanças climáticas são inúmeras e já estão sendo sentidas na pele. A mídia mostra-nos enchentes, tempestades, chuvas fortes em algumas regiões. Já em outras temos secas, falta de água potável e perda das lavouras por falta de chuva.

O que tem sido consenso e divulgado por muitos cientistas (a partir de inúmeros estudos apresentados) diz que mesmo o Brasil, que possui boa parte da água doce e potável do planeta, terá sérios problemas a respeito desse sagrado e essencial liquido e, também, na produção de alimentos.

Hoje, boa parte das cidades de médio e grande porte já tem problemas com o abastecimento de água. Muitas já estão buscando água, através de extensas tubulações. Mesmo diante desse quadro, o problema hídrico só tem ampliado. As empresas de saneamento básico, que são sérias, trabalham na busca da eficiência, na eficácia de suas ações, em relação à melhoria de redes de distribuição e no tratamento dos dejetos. Entretanto, isso é válido, mas não basta. Tem que haver um engajamento de toda a sociedade em prol da conservação dos recursos hídricos.

A população que, de certa forma, é a maior interessada, ainda não tem feito a parte que lhe cabe. Muitas pessoas acreditam que a água é um recurso natural infinito que pode ser renovado, ou seja, nunca irá faltar.

Certo dia, conversando sobre a possível falta de água no mundo, um cidadão disse-me que não economizava água porque não havia um estímulo financeiro para a economia da mesma. Ele disse que gastava 6 mil litros/mês e pagava por 10 mil litros/mês. Diante disso, achava mais prudente lavar a calçada e regar as plantas todos os dias, para, assim, gastar “seus” 10 mil litros/mês (ele acreditava ter direito de gastar os 10 mil litros no mês, já que pagaria pelos mesmos). Este é o típico pensamento sem nexo e consciência ambiental.

As pessoas deveriam olhar o seu consumo em quantidade de litros e não o valor da conta em reais. A taxa mínima foi criada, pensando em uma economia de escala (tornar viável a distribuição e cobrança da água em todas as residências) e não para ser consumida de forma integral.

Como sugestão: talvez, se as empresas de saneamento básico criassem concursos na forma de sorteios eletrônicos para aqueles que economizarem a água mês a mês, conseguiriam obter bons resultados na redução do consumo. Por exemplo: na conta de água de um determinado cidadão houve um decréscimo de 5% no consumo de litros se comparado com a média dos últimos três meses, então, esse cidadão concorreria, automaticamente, a um carro popular zero quilômetro. Outra idéia é ter mais taxas de diferenciação de consumo.

Outro ponto a ser lembrado é a forma de cobrança de água nos condomínios que possuem a conta coletiva. Essa é uma forma totalmente errada de distribuir e cobrar a água, pois os condôminos sempre pensam que não vale a pena um esforço para economizar água, uma vez que seus vizinhos estão gastando a água em excesso e ele estará pagando por esse uso. Hoje, deve haver um esforço dos síndicos e síndicas para individualizarem a distribuição e cobrança da água.

Conservar cada litro de água que já está presente na rede e nos reservatórios é mais barato do que extraí-lo da natureza. Pensando no futuro e na possibilidade de um “estresse hídrico”, é viável e prudente a conservação do que ainda temos por perto.

Infelizmente, no Brasil, ainda há uma política voltada para as “megaobras” e não para a conservação dos recursos hídricos de forma simples, como, por exemplo, programas de educação ambiental desenvolvidos nas escolas que sensibilizem as crianças para a redução e otimização do uso da água. O aproveitamento da água da chuva também é uma ação interessante a ser feita. Há condomínios que já possuem cisternas que recolhem a água para regar os jardins e lavar o pátio.

Atualmente, há discussões sobre a cobrança pelo uso da água, porém essa polêmica não está avançando como deveria. O tratamento e o reuso da água também deveria estar em pauta nas discussões. Nota-se que boa parte da população está omissa a esse respeito.

Portanto, as mudanças climáticas estão ocorrendo e a água, que é o recurso natural que nos garante a vida, também sofre os efeitos dessas mudanças. Temos que conservá-la, ainda mais, do contrário estaremos contribuindo para o extermínio da vida no Planeta Terra.

É economista, professor universitário, mestre em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Unicamp e doutorando em Dinâmica e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP de Presidente Prudente – SP).

marcalprofessor@yahoo.com.br

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