domingo, 6 de maio de 2007

É possível combater as mudanças climáticas, diz relatório do IPCC

Delegações internacionais aprovaram o primeiro plano mundial para conter as emissões de gases causadores do efeito estufa nesta sexta-feira, 4, apresentando um arsenal de medidas que precisa entrar em ação rapidamente, para evitar uma mudança climática desastrosa.

O relatório apresentado na Tailândia resume um estudo de mais de 1.000 páginas feito por uma rede de 2.000 cientistas, patrocinada pela ONU. O trabalho mostra que o mundo terá de fazer cortes significativos nas emissões de gases causadores do aquecimento global, melhorando a eficiência energética de automóveis e edifícios, trocando os combustíveis fósseis por fontes renováveis e reformando os setores agrícolas e de exploração florestal.

O documento deixa claro que o mundo tem a tecnologia e o dinheiro para agir de forma decisiva e a tempo de evitar a elevação drástica de temperaturas que poderá levar espécies à extinção, elevar o nível dos oceanos, causar caos econômico e gerar secas e enchentes.

No cenário que exigirá mais esforços para ser implementado, o relatório diz que o mundo deve estabilizar a quantidade de gases do efeito estufa na atmosfera em 445 partes por milhão até 2015, para manter a elevação da temperatura global abaixo de 2º C além dos níveis pré-industriais, com um impacto de redução do PIB mundial de menos de 3% até 2030 e menos de 5,5% até 2050.

Os autores do relatório dizem que a aprovação do texto deve acabar de vez com as críticas de que o combate ao aquecimento global será muito caro, sufocará o desenvolvimento econômico e que o aquecimento global já foi longe demais para que a humanidade possa fazer algo a respeito.

"Se continuarmos do jeito que estamos, estaremos em numa grande encrenca", disse o vice-presidente do grupo encarregado de finalizar o relatório, Ogunlade Davidson.

Kyoto

Os delegados saudaram o relatório como um importante avanço no combate ao aquecimento global, que lança as bases para um acordo internacional ainda mais potente que o Protocolo de Kyoto, lançado em 1997, e que expira em 2012. "Claramente, os sinais que o IPCC levanta terão um efeito direto e profundo na discussão que tem lugar e na direção rumo ao acordo" pós-Kyoto, declarou o presidente do grupo responsável pelo relatório, Rajendra Pachauri.

O chefe da delegação dos Estados Unidos, Harlan Watson, declarou-se satisfeito com o fato de o relatório "destacar a importância de um portfólio de tecnologias de energia limpa consistente com nossa abordagem" do problema. Mas James Connaughton, presidente do Conselho de Qualidade Ambiental da Casa Branca, disse que a possibilidade de se atingir a meta mais ambiciosa do relatório é preocupante. "Ela irá, é claro, causar uma recessão global. Então, trata-se de algo que provavelmente gostaríamos de evitar", disse ele. "Nossa meta é reduzir emissões e fazer a economia crescer".

Ao sair da reunião que definiu o relatório, delegados disseram que a ciência venceu a política - especialmente a oposição da China, que gostaria que o texto abrisse caminho para um acúmulo maior de gases do efeito estufa na atmosfera, antes que medidas fossem tomadas.

A China é o segundo maior emissor de gases do efeito estuda do mundo, atrás dos EUA, e vinha argumentando que cortes profundos nas emissões poderão sufocar sua economia. Mas o relatório final manteve a menção à meta de contenção dos gases do efeito estufa em 445 partes por milhão até 2015. O Relatório Stern, divulgado em 2006 pelo governo britânico, estima que a concentração atual esteja em 430.

Um dos co-autores chineses do relatório do IPCC, Zhou Dadi, negou que a China tenha feito "oposição" ao texto. "O governo chinês agiu de forma construtiva e contribuiu para fazer o relatório refletir a ciência", disse ele. "Não ameaçamos o relatório".

Os delegados lutaram com a questão de como dividir o fardo do corte de emissões, quanto as medidas de contenção deverão custar e qual o peso que deveria ser dado a soluções polêmicas, como energia nuclear e biocombustíveis.

Meta ambiciosa

Para muitos dos autores do trabalho, a mensagem mais forte do texto é a de que a meta mais ambiciosa do relatório pode ser atingida, até 2030, com um custo inferior a 3% do PIB mundial. O crescimento da economia global tem se mantido, em média, em 3% ao ano, desde 2000.

O Relatório Stern, por sua vez, havia advertido que o aquecimento global descontrolado poderá reduzir o PIB mundial entre 5% e 20%.

O texto divulgado em Bangcoc segue-se a dois estudos anteriores do IPCC, que haviam advertido que a emissão descontrolada de gases do efeito estufa poderia elevar as temperaturas globais em até 6º C até 2100, desencadeando elevação do nível dos mares, profundas transformações ecológicas, com a extinção de espécies, devastação econômica e crises humanitárias.

Mas nem mesmo a obtenção da meta mais ambiciosa traçada no relatório de Bangcoc poupará o mundo de sofrimento causado pela mudança climática. Uma elevação das temperaturas em 2º C ainda poderá submeter 2 bilhões de pessoas a escassez de água até 2050, e ameaçar de extinção até 30% das espécies do mundo.

Grupos ambientalistas dizem que o relatório mostra que o mundo pode pagar a conta de conter o aquecimento global. "Isto é um mapa que o IPCC está entregando", disse Hans Verolme, da WWF Internacional. "É hora de os políticos pararem de tratar o aquecimento global só da boca para fora e parar a mudança climática antes que seja tarde".
(Fonte: Associated Press / Estadao.com.br)

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