quinta-feira, 3 de maio de 2007

País não tem informações sobre impactos locais do aquecimento

Encontro na USP lembra que, sem dados, é impossível traçar políticas

Leia os relatórios prévios do IPCC (em inglês) e saiba mais sobre aquecimento global

Giovana Girardi

O Brasil vive hoje um “vazio de monitoramento” sobre os impactos do aquecimento global nos sistemas físicos e biológicos do País. Sem essas informações é impossível adotar políticas de mitigação e adaptação aos danos das mudanças climáticas. A conclusão, do climatologista Carlos Nobre, foi o tema que norteou ontem o debate promovido pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP).

O evento, que visava a discussão com a sociedade dos aspectos regionais e setoriais da segunda parte do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, divulgado na sexta-feira, contou com a participação de cinco cientistas brasileiros que colaboraram na elaboração do texto.


Nobre e José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), juntamente com os pesquisadores Philip Fearnside (do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas), Ulisses Confalonieri (Fiocruz) e Antonio Rocha Magalhães (do Banco Mundial), foram categóricos: o Brasil precisa desenvolver o quanto antes um mapa que aponte exatamente onde está a nossa vulnerabilidade, tanto dos ecossistemas como dos sistemas sociais e econômicos.

“Faltam informações básicas, como projetos de monitoramento de longo prazo por meio dos quais seja possível apontar efetivamente quais mudanças são atribuídas ao aquecimento global”, explica Nobre. “Só com esse tipo de informação é possível convencer a sociedade a pagar os custos de adaptação e mitigação.”

POLÍTICA PÚBLICA SEM CIÊNCIA

Marengo, que lançou em fevereiro o primeiro modelo matemático que prevê os impactos futuros para o País, como aquecimento de até 8°C na Amazônia até 2100, alerta que o governo tem de considerar a ocorrência de eventos extremos para projetar suas ações.

“O Brasil, assim como outros países em desenvolvimento, tem o mau hábito de criar políticas públicas sem levar em conta o conhecimento científico. O que temos medo é que muito tem se falado em dois pilares: mitigação e adaptação, mas nenhuma mesa se segura só com duas pernas. E a terceira é a vulnerabilidade. Essa só é obtida com a base científica.”

O pesquisador usou como exemplo o projeto de transposição do Rio São Francisco, que tem como objetivo combater a seca. “O problema é que ele foi feito em cima de um clima estável, de uma realidade atual de seca, mas as projeções para o Nordeste apontam para uma maior aridez do semi-árido. Sem a inclusão dessa variável, ele provavelmente não será efetivo”, diz.

Para Marengo, o mesmo vale para a construção de piscinões e galerias fluviais. Muitos já foram e ainda estão sendo projetados de acordo com a quantidade atual de chuvas, mas cidades como São Paulo e Rio devem sofrer cada vez mais com tempestades e inundações.

Os pesquisadores, no entanto, estão confiantes em que agora o País está mais alerta à necessidade de mais pesquisa. Nobre prevê que o mapa de vulnerabilidade esteja pronto em cinco anos.

Fonte: O Estado de São Paulo

Nenhum comentário: