terça-feira, 1 de maio de 2007

Novo relatório da ONU tentará mostrar como evitar catástrofe

Depois de lançar dois relatórios prevendo um planeta mais quente, onde a vida como a conhecemos sofrerá mudanças drásticas, o comitê científico patrocinado pelas Nações Unidas lançará, em maio, um terceiro estudo, descrevendo como o mundo pode se unir para evitar o pior, abraçando tecnologias que vão da energia nuclear ao controle de esterco.

Sob um cenário otimista para evitar os danos mais graves, a economia global poderá perder apenas três pontos porcentuais de crescimento até 2030, ao adotar tecnologias pra reduzir as emissões de gases do efeito estufa, diz o esboço do relatório, obtido pela Associated Press.

Mas não será fácil: "Governos, empresas e indivíduos precisarão, todos, empurrar na mesma direção", disse a cientista britânica Rachel Warren, uma das autoras do relatório.

Para começar, governos de países como China e EUA, grandes poluidores, terão de se unir a países que adotaram o Protocolo de Kyoto, aceitando limites compulsórios à emissão de dióxido de carbono. O governo Bush recusa-se a adotar limites compulsórios, alegando que a medida prejudicaria a economia.

O esboço do terceiro relatório do Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC), cuja versão oficial será lançada em Bangcoc em 4 de maio, diz que as emissões podem ser cortadas abaixo dos níveis atuais, se o mundo der as costas a combustíveis como o carvão, abraçar a eficiência energética e reduzir o desflorestamento de modo significativo.

"As oportunidades e a tecnologia estão aí, e agora é um caso de encorajar o uso crescente dessas tecnologias", disse o analista da Agência Internacional de Energia Ralph Sims, outro dos 33 cientistas que traçaram as linhas gerais do relatório.

Os dois relatórios prévios do IPCC pintaram um quadro desolador do futuro da Terra, no qual a emissão desenfreada de gases do efeito estufa levam as temperaturas globais em até 6º C até 2100. Mesmo uma elevação de 2º C poderá submeter dois bilhões de pessoas à falta d´água até 2050, e levar de 20% a 30% das espécies do mundo à beira da extinção.

O terceiro relatório deixa claro que o mundo deve adotar rapidamente uma cesta de soluções tecnológicas - tanto já disponíveis quanto em desenvolvimento - apenas para conter o aquecimento na marca dos 2º C.

O esboço destaca que cortes significativos poderiam ser feitos da conversão dos edifícios em estruturas mais eficientes do ponto de vista energético, por meio de um melhor isolamento térmico, iluminação e outras medidas, e pela substituição do carvão pelo gás natural, pela energia nuclear e por fontes renováveis, como vento e biocombustíveis.

De impacto menor, mas ainda significativo, seriam medidas para tornar os veículos automotores mais eficientes, a redução do desflorestamento e o aumento no número de árvores, que atuariam como "ralos" de carbono, absorvendo o CO2. Até mesmo a captura do metano produzido pelo gado e pelo esterco ajudaria, segundo o texto.

O relatório diz que a adoção de medidas "ótimas" para mitigar o efeito estufa poderia estabilizar a concentração de gases do aquecimento global, até 2030, em 445 a 534 partes por milhão na atmosfera - sobre uma concentração atual de 430 ppm. Ele indica que uma estabilização rápida em 450 ppm - um cenário improvável - poderia conter o aquecimento na faixa dos 2º C acima dos níveis da era pré-industrial. É dentro dessa faixa, acreditam cientistas, que está a melhor chance de evitar grandes danos.
(Associated Press/ Estadão Online)

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