sexta-feira, 4 de maio de 2007

A Ilha do Aquecimento




Um fato emblemático foi registrado pela imprensa mundial nos últimos dias: exploradores descobriram uma ilha no Ártico, formada após o derretimento de uma geleira que a ligava à Groenlândia. A ilha, desconhecida até agora, recebeu de seus descobridores o nome de Ilha do Aquecimento. Ela é um dos resultados mais assustadores disso que se convencionou chamar de efeito estufa, que está afetando gravemente o equilíbrio ambiental do planeta. Com algum atraso, a comunidade humana começa a mobilizar-se de maneira mais efetiva, embora os maiores produtores dos gases que provocam o aquecimento global - Estados Unidos e China - ainda estejam devendo políticas e ações consistentes. O Protocolo de Kyoto, que é o instrumento legal mais elaborado no sentido de combater o efeito estufa, ainda não recebeu a ratificação desses países.

O governo de Washington nega-se a assumir as metas - que de resto são tímidas e insuficientes - de redução da emissão de gases previstas no protocolo. No começo deste milênio, a natureza já deu vários avisos ao homem. O surgimento da Ilha do Aquecimento é apenas um deles. Outros foram a redução de outras geleiras árticas, antárticas e dos picos das montanhas, as dramáticas mudanças climáticas que, como o furacão Catarina no Sul do Brasil e o Katrina no Golfo do México, mostraram um potencial de destruição que não havia sido detectado. Outros ainda foram as inundações e as secas. Os relatórios da ONU, ao investigarem as causas desses desequilíbrios, atestam que a ação humana está provocando destruição que excede em 25% a capacidade de reposição do planeta. Ou seja, o planeta está cortando em sua carne. A questão ambiental passou a ser central nas preocupações humanas. Os ambientalistas, que há um quarto de século eram tidos como sensacionalistas, hoje são considerados visionários. O que antes era considerado uma chantagem dos ecologistas - que eram chamados de ecoxiitas - hoje são verdades irredutíveis. As preocupações das conferências mundiais sobre o ambiente e o clima, olhadas como exageradas quando de suas realizações nas décadas de 80 e 90, surgem agora como fatos que deveriam ter sido levados em conta há mais tempo. O filme do ex-vice-presidente Al Gore sobre a questão - Uma Verdade Inconveniente - e os documentos das ONGs e das conferências multilaterais sobre o ambiente e o clima são apelos dramáticos a uma ação do planeta para salvar-se.

O jornalista Washington Novaes, especialista em questões do ambiente, lembra que Maurice Strong, secretário da Eco-92, realizada no Rio, considerava já naquela época que os governos e os cidadãos do mundo estavam tendo "a última oportunidade de rever os rumos planetários, sob pena de declínio da espécie humana". Sem a dramaticidade das declarações de Strong, mas com um simbolismo inegável, a natureza fez surgir no Ártico a Ilha do Aquecimento. Mais um alerta.


Diário Catarinense

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