sexta-feira, 11 de maio de 2007

Devastação pela metade reduz em 10% emissão

Giovana Girardi

Uma redução de 50% na taxa de desmatamento de florestas tropicais até 2050, e a manutenção desse nível até 2100, pode evitar a emissão de 50 bilhões de toneladas de carbono neste século, o equivalente a 12% do total de reduções que deve ser alcançado para diminuir os danos do aquecimento global.

O número, apresentado hoje por um equipe internacional de pesquisadores na revista Science, fortalece as propostas de criação de um mercado internacional que incentive financeiramente a redução do desmatamento nos países tropicais.

Só na década de 90, a destruição de florestas tropicais foi responsável por uma emissão anual de 1,5 bilhão de toneladas de carbono, ou quase 20% das emissões de gases-estufa, de acordo com dados do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (veja quadro ao lado).

'Acreditamos que essa redução é factível do ponto de vista econômico, ao mesmo tempo que é significativa para o clima', explica o climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e co-autor do artigo.

Ele defende que uma política de desmatamento evitado é particularmente viável para o Brasil, podendo chegar a até 70% ou 80% dos níveis atuais de desmatamento. 'Considerando as áreas que já foram derrubadas na Amazônia, mas que estão abandonadas ou são mal aproveitadas, não há justificativa para desmatar muito mais para a agropecuária', diz.

Os pesquisadores lembram no artigo que reduzir o desmatamento não apenas evita lançar na atmosfera o carbono armazenado nas árvores como também ajuda a reduzir os impactos das mudanças climáticas nas áreas remanescentes de floresta. Como exemplo eles citam o ciclo do El Niño entre os anos de 1997 e 1998. 'A experiência demonstrou como mudanças climáticas podem interagir com mudanças no uso da terra e colocar grandes áreas da floresta em risco', escrevem.

Segundo os pesquisadores, a extensão de áreas secas promovida pelo fenômeno climático de aquecimento das águas do oceano Pacífico ao longo da Amazônia e do Sudeste Asiático aumentou a mortalidade de árvores e o risco de incêndios. Globalmente, o aumento de queimadas promovido pelo El Niño lançou uma quantidade extra de 2,1 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera.

'A principal mensagem que queremos passar com o artigo é que podemos atacar o aquecimento global ao menos em parte com a redução do desmatamento', disse Daniel Nepstad, do Centro de Pesquisa de Woods Hole e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), co-autor do texto.

'Em vários países o desmatamento das florestas tropicais gera poucos benefícios diante dos prejuízos causados ao mundo inteiro. Cortar o uso de combustíveis fósseis é muito importante, mas temos dado pouca atenção ao desmatamento. Esse número mostra que ele merece atenção', complementa.

Para Nepstad, outra mensagem importante é direcionada ao governo brasileiro. 'O País é o que mais pode lucrar se for criado um mercado para países que consigam reduzir o seu desmatamento. Nos últimos anos a taxa de destruição da Amazônia já vem caindo; reduzir 50% é completamente factível', diz.

Para Nepstad, no entanto, esse número corre o risco de ser muito conservador. Ele teme que o incentivo aos biocombustíveis e o aumento do preço da soja possa impulsionar o desmatamento nos próximos anos. 'Isso significa que daqui uns 10 ou 20 anos teremos de reduzir ainda mais o desmatamento.'

O Estado de São Paulo

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