quarta-feira, 9 de maio de 2007

Aquecimento vira tema para aulas

Shaonny Takaiama

Escolas particulares de São Paulo vêm percebendo que, para tratar de temas como aquecimento global e sustentabilidade, a melhor forma é realizar atividades com os alunos além dos muros da escola.

No Colégio Magno, estudantes do 1º ano do ensino médio estão às voltas com a construção de dois projetos diferentes: um carro de golfe e um aquecedor movidos a energia solar. Todo feito de acrílico e construído com o uso de uma sucata de um carro de minigolfe , o protótipo foi inspirado em um modelo da Ford de carro elétrico. Da sucata, foram aproveitados só o chassi e uma das peças ligadas ao eixo do carro, chamada diferencial. O restante foi projetado pelos alunos, que aprendem simultaneamente conceitos de mecatrônica e fontes alternativas de energia.

Futuramente, os carros construídos pelos alunos serão apresentados aos clubes de golfe de São Paulo como alternativa mais econômica e ecológica aos atuais carros elétricos. “A idéia do carro solar é diminuir o impacto ambiental. Hoje em dia, é difícil construir uma hidrelétrica sem prejudicar o meio ambiente porque toda a região em volta tem de ser alagada”, explica o aluno Victor Marques, de 17 anos, repassando o conhecimento adquirido.

A idéia de oferecer à sociedade o que é produzido dentro dos muros da escola também está presente no aquecedor solar desenvolvido pelos professores do Colégio Magno e cuja técnica será transmitida aos alunos. Ele é feito de garrafas de plástico, embalagens e canos. “A idéia é levar essa tecnologia para a creche Miguel Franchini como forma de ajudar no uso racional da energia”, explica a coordenadora pedagógica Cleyde Ruyz. O aquecedor será implantado nos chuveiros da creche, que atende crianças entre 9 meses e 4 anos.

A energia solar também é o mote para um projeto do Sistema Anglo de Ensino. A instituição pretende difundir para as suas 600 unidades em todo o Brasil o projeto “Cozinhas Solares”, do professor Celestino Ruivo, da Universidade de Algarve, em Portugal. São fornos construídos com papelão reciclável e cartolina prateada usados para a captação da energia solar e que custam cerca de US$ 10 (pouco mais de R$ 20).

Nos países da Ásia e da África, esses fornos já são utilizados para cozinhar alimentos. Eles são uma alternativa à queima da madeira, que libera monóxido de carbono, gás carbônico e hidrocarbonetos, substâncias que causam malefícios à saúde e ao meio ambiente. Para um campo de refugiados do Quênia, a ONU enviou 15 mil fornos solares. Foi essa a forma encontrada para conter a devastação acelerada da floresta.

“Depois de ensinar os alunos, queremos levar essa idéia para as comunidades, pois o Brasil tem muita insolação”, diz o professor João Carlos Rodrigues. “Qualquer pessoa que tenha um quintal ou uma laje pode ter uma cozinha solar e economizar muito em gás na produção de alimentos”, completa.

Em uma demonstração para os alunos da Unidade Santo Amaro do Colégio Anglo, foi feito doce de goiaba, café, bolo de chocolate, abóbora, sardinhas portuguesas e picanha em um forno solar, que consegue atingir até 150°C. O tempo de cozimento dos alimentos depende da incidência do sol.

INCENTIVO À COLETA SELETIVA

Já o colégio Stance Dual elabora atividades que envolvam a comunidade do bairro localizado no entorno da escola. Desde 2000, o colégio adota os princípios da Agenda 21, formada com base nas resoluções tomadas com a ECO-92. Economia de água, de papel e de energia, além de reciclagem de materiais são medidas comuns dentro da escola. Fora dela, os alunos instalaram na Praça Contos Fluminenses, localizada em frente ao colégio, quatro sacos de mil litros para a coleta seletiva de lixo.

Toda semana, os moradores do bairro depositam o lixo já separado nos sacos destinados a metal, papel, plástico e vidro. Depois os catadores da Associação Vira-Lata passam para recolher, sempre aos sábados. “Acho que todo mundo deve ajudar o planeta, principalmente nós, as crianças, porque o futuro depende da gente”, diz a aluna Helena Santos, de 9 anos, mostrando seus conhecimentos quando se trata de sustentabilidade ambiental. Os alunos também elaboram diversas campanhas. Em uma delas, foram arrecadadas 10 mil tampinhas de plástico de garrafas plásticas, doadas posteriormente à Fundação Dorina Nowill, que ajuda deficientes visuais.

A fundação vende as tampinhas para uma empresa, que as derrete e reutiliza o plástico em outras finalidades. Com o dinheiro arrecadado, são comprados computadores e livros em braile para uso dos deficientes da instituição. Para Débora Moreira, coordenadora do Projeto Agenda 21 no Stance Dual, a intenção é que os alunos se tornem multiplicadores de informação. “Queremos que eles lancem olhar para fora da escola.”

No colégio Módulo, os alunos também adotaram uma praça em frente à escola, e está prevista uma série de ações pelo Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho. Haverá distribuição de mudas para os moradores do bairro e uma cartilha sobre sustentabilidade elaborada pelos alunos do ensino médio. “Quando os alunos põem a mão na massa, passam a idéia adiante. É mais produtivo do que as aulas expositivas”, diz o diretor pedagógico, Wagner Sanchez. Nesse dia, os alunos terão palestras com integrantes da Cetesb e de ONGs ambientais.

Nenhum comentário: