domingo, 8 de abril de 2007

Países em desenvolvimento não podem ser bode expiatório na questão climática, diz Marina Silva

Ao avaliar a segunda parte do relatório Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas ( IPCC, sigla em inglês), divulgado nesta sexta-feira (06) pela ONU - Organização das Nações Unidas, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que a posição do governo brasileiro é de preocupação. Ela ressaltou que os países em desenvolvimento, contudo, não podem ser transformados em "bode expiatório de uma questão grave e dramática”.


Para Marina Silva, é preciso que os países desenvolvidos assumam uma responsabilidade no que diz respeito ao problema gerado pelas mudanças climáticas. “Nós temos que dar nossa parcela de contribuição, mas tendo a clareza de que os países ricos precisam fazer muito mais do que estão fazendo”.


Um dos riscos apontados na segunda parte do IPCC é que o aumento da temperatura do planeta associado à redução da disponibilidade de água poderá transformar a Amazônia em savanas (vegetação composta por gramíneas, árvores esparsas e arbustos, semelhante ao cerrado) até a metade do século.


Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, a ministra Marina Silva ressaltou que o combate aos efeitos das mudanças climáticas requer um esforço global e não apenas local, nacional ou regional. “Mesmo que os países em desenvolvimento façam 100% do seu dever de casa, reduzindo 20% de suas emissões (de gases poluentes causadores do efeito estufa), se os países ricos - que são responsáveis por 80% dessas emissões - não fizerem as suas metas, mesmo assim nós seremos drasticamente afetados”, alertou a ministra, sem se referir a nenhum país especificamente.

Pelo Protocolo de Quioto, as nações industrializados que ratificaram o documento devem reduzir, até 2012, suas emissões de gases de efeito estufa em aproximadamente 5% abaixo dos níveis de 1990. Já os países em desenvolvimento não têm metas obrigatórias para redução de suas emissões. Entre os países que não ratificaram o protocolo estão os Estados Unidos e a Austrália.

Segundo a ministra Marina Silva, o governo brasileiro adotou “uma postura proativa” para que cenários traçados no relatório não se transformem em realidade. Ela destacou a importância do Plano Nacional de Enfrentamento às Mudanças Climáticas, que está sendo elaborado pelos Ministérios do Meio Ambiente, das Relações Exteriores e da Ciência e Tecnologia.

"O plano vai juntar todas as ações já existentes dentro do governo, que não são poucas, se comparadas a outros países. Para se ter uma idéia, os países ricos têm cerca de 6% da sua matriz energética renovável. Os outros países em desenvolvimento têm cerca de 13% e o Brasil tem 45%".

A proposta, de acordo com a ministra, está sendo traçada nos moldes do Plano Nacional de Combate ao Desmatamento. Marina Silva explicou que, no caso brasileiro, a principal colaboração com o processo de aquecimento global vem do desmatamento, um dos maiores responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa. No casos de muitos países desenvolvidos, o maior problema é a queima dos chamados combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural.

Segundo a ministra, nos últimos dois anos o plano de combate ao desmatamento foi responsável pela redução de 430 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. “Teremos que aprofundar cada vez mais a nossa contribuição”, defendeu, ao destacar que o país também tem investido na produção de biocombustíveis e no uso de energias renováveis.

“O importante é que cada um faça a sua parte na medida do necessário, e o Brasil está tomando essa medidas, com o plano de combate ao desmatamento, todo o plano voltado para as energias renováveis, todo o esforço que estamos fazendo no sentido de ter um Plano Nacional de Enfrentamento às Mudanças Climáticas. Mas essas contribuições precisam ter o sentido da urgência, da dramaticidade, por todos os países do mundo, e todos nós temos que dar a nossa parcela de contribuição”, reforçou.

(Juliana Andrade/ Agência Brasil)

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