quinta-feira, 26 de abril de 2007

EM DEFESA DO GÁS CARBÔNICO

Fernando Reinach*

O aquecimento global desencadeou um processo de difamação da molécula de CO2 (o gás carbônico). Minha defesa do gás carbônico foi desencadeada pela afirmação de um motorista de táxi. Se dependesse dele o CO2 deveria ser proibido de forma definitiva no Brasil.

Enquanto pensava no estado deplorável da educação no País me lembrei da decisão polêmica da suprema corte dos EUA. No início deste mês ela autorizou a Agência de Proteção Ambiental americana (EPA, na sigla em inglês, a equivalente americana ao Ibama) a regulamentar as emissões de gás carbônico em vez da queima de combustíveis fósseis. Foi a primeira vez que uma agência governamental ganhou poderes para regular uma molécula essencial para a vida no planeta.

Nascidos para emitir CO2


Antevendo que uma ONG acabe por convencer algum deputado a conceder a mesma autoridade ao Ibama, resolvi defender o CO2.

Sonhei com o Ibama exigindo estudo de impacto ambiental para cada projeto que emite gás carbônico no País. No sonho casais chegam à maternidade e o parto só é permitido se apresentarem estudo do impacto ambiental causado pelo filho que vai nascer. Não existe animal que não emita CO2. Viver é emitir gás carbônico. Isso porque os animais obtêm a energia necessária para viverem oxidando molécula que contém carbono. O açúcar e as gorduras que ingerimos nas refeições contêm átomos de carbono reduzidos (aqueles que não estão ligados a átomos de oxigênio). Nosso corpo oxida esses átomos de carbono e finalmente os libera na forma de gás carbônico. Não tem solução, a cada respirada liberamos gás carbônico na atmosfera.

Enquanto os animais necessitam liberar gás carbônico para viver, as plantas necessitam consumir essa molécula para crescer. Retire todo o gás carbônico da atmosfera e as plantas desaparecem do planeta. Para crescer elas utilizam o gás carbônico da atmosfera, a água do solo e a luz do sol para transformar os carbonos oxidados do gás carbônico nos carbonos reduzidos presentes na sacarose da cana-de-açúcar e no óleo da soja. O ciclo do carbono somente se fecha quando os animais se alimentam dos vegetais e novamente liberam o gás carbônico na atmosfera.

Dada a importância do gás carbônico para a vida no planeta, é fácil entender os problemas éticos que dominaram as discussões na suprema corte americana. Em última análise, a medida permitiu ao Estado regular a produção de uma molécula que tem um papel central na manutenção da vida no planeta. No passado o EPA somente tinha o poder de legislar sobre poluentes, moléculas produzidas pelo homem e nocivas ao ecossistema.

Agora o CO2 foi colocado nessa lista num lugar que estava destinado aos combustíveis fósseis. É importante divulgar e explicar o ciclo do carbono para que não ocorra com o CO2 o que ocorreu com o DNA.

As campanhas contra a biotecnologia de tal maneira difamaram a molécula de DNA que a grande maioria dos europeus, quando questionados se comeriam DNA, afirmou que jamais aceitariam alimentos contendo DNA. Mal sabem eles que comem enormes quantidades de DNA todos os dias. O medo do DNA substituiu o medo dos agrotóxicos.

A culpa pelo aquecimento global não é de uma ou outra molécula, mas do homem que retirou grandes quantidades de carbono reduzido do subsolo (petróleo) e o liberou na atmosfera na forma de CO2. Jogar a culpa no CO2 é desinformação ou manipulação: transfere a culpa dos combustíveis fósseis para o inocente CO2.

*fernando@reinach.com
Biólogo

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